Embriologia animal
Nos animais, o embrião pode dar lugar a um adulto, em processo de
crescimento direto, ou produzir uma larva que passará por metamorfose
para converter-se em adulto. As células que apresentam dois jogos
cromossômicos homólogos são diplóides e os organismos correspondentes
diplontes. Isso ocorre em todos os animais: durante a gametogênese,
formam-se os gametas (óvulos nas fêmeas e espermatozóides nos machos),
que só têm um jogo cromossômico como resultado da meiose.
Na fecundação, o núcleo do espermatozóide funde-se com o óvulo para
formar o zigoto, que assim constitui a célula diplóide. O embrião pode
desenvolver-se fora do organismo a partir do qual se formou,
alimentando-se de uma substância proporcionada pelo óvulo, o vitelo
(caso dos animais ovíparos, como as aves), no interior do gerador,
também com nutrição vitelina (animais ovovivíparos, como alguns
répteis), ou ainda no interior, mas com alimentação fornecida pelo
organismo (caso dos animais vivíparos, como os mamíferos).
Fases de desenvolvimento embrionário. A complexidade do processo de
crescimento do embrião impõe a atribuição de denominações específicas a
numerosas células e grupamentos celulares que intervêm em suas
sucessivas etapas de desenvolvimento.
Segmentação: O começo do processo embrionário consiste na divisão
mitótica do zigoto, que dá origem a duas células que voltam a
dividir-se. O processo se repete à medida que aumenta o número de
células (2, 4, 8, 16...) até formar uma densa esfera de células, a
mórula. O resultado final desse processo, chamado segmentação, é o
estado da blástula (nos mamíferos, blastocisto), formada por um conjunto
de células denominadas blastômeros e que normalmente contêm uma
cavidade, o blastocele (lecitocele nos mamíferos).
Gastrulação: O estado da blástula dá lugar a outro mais
desenvolvido, o da gástrula, mediante o processo chamado gastrulação, em
que se formam as três camadas celulares fundamentais dos embriões dos
animais superiores: o ectoderma na parte externa, o endoderma na interna
e o mesoderma entre ambas. Durante a gastrulação, desaparece o
blastocele (se existia) e forma-se uma nova cavidade, o arquêntero, que
dará lugar ao intestino do animal. O arquêntero comunica-se com o
exterior por um orifício dito blastóporo, onde têm origem a boca do
animal (nos protostomados) e o ânus (nos deuterostomados).
O ectoderma e o endoderma podem formar-se mediante diferentes
mecanismos, os mais comuns dos quais são a embolia, em que uma parte da
blástula se invagina e cresce até entrar em contato com a parte não
invaginada, e a epibolia, em que uma parte da blástula cresce e recobre o
resto. Uma vez formados o ectoderma e o endoderma, o mesoderma
origina-se a partir das células de um deles ou de ambos.
Organogênese: Depois de formar-se a gástrula, ocorre proliferação
celular e amplo movimento e migração de células, abre-se um poro
secundário (que origina a boca ou o ânus) e formam-se pregas e bolsas,
fenômenos que, em conjunto, se conhecem como organogenesia, e que dão
lugar à constituição dos diferentes órgãos do animal. De modo geral, o
ectoderma constitui o sistema nervoso e a pele, o endoderma os aparelhos
respiratório e digestivo, como as glândulas a estes associadas, e o
mesoderma os ossos, os músculos, os aparelhos excretor, circulatório e
reprodutor.
Animais amniotas: Os embriões de répteis, aves e mamíferos
encontram-se protegidos por uma série de membranas. O cório acha-se
imediatamente debaixo da casca do ovo nos répteis, aves e mamíferos
monotremados e une-se à parede do útero da mãe nos mamíferos superiores,
para formar a placenta. A segunda membrana é o âmnio, que contém o
líquido amniótico.
As duas camadas restantes são invaginações do tubo digestivo: o saco
vitelino, cheio de vitelo (exceto nos mamíferos superiores), que serve
de alimento ao embrião, e o alantóide, que nos animais que põem ovos se
liga à casca pormeio de vasos e serve tanto para a respiração como para o
acúmulo de substâncias rejeitadas. Nos mamíferos superiores, liga-se à
placenta, serve às mesmas funções e ao transporte de alimentos
fornecidos pelo sangue da mãe. Nesses animais, o alantóide e a vesícula
vitelina (muito reduzida) são rodeados por tecido conectivo e pela pele,
constituindo o cordão umbilical.
Regulação e mosaico: Nos primeiros passos da segmentação, varia o
comportamento de certas espécies, nas quais está determinada a parte do
corpo originada de cada célula ou blastômero. Diz-se, em tal caso, que o
embrião apresenta um comportamento de mosaico, ou que está determinado.
Por exemplo, nas ascídias, animais em geral marinhos, quando se separa
um dos blastômeros formados depois da primeira divisão celular, o
restante produz apenas a metade do embrião.
Em outros casos, como o do ouriço-do-mar, uma operação similar resulta
na produção do embrião completo: o blastômero restante é capaz de
assumir as funções do que foi eliminado. Diz-se, então, que o ovo
apresenta regulação. É um mecanismo desse tipo que intervém no
desenvolvimento do embrião humano. Em geral, depois de algumas divisões
celulares a partir da inicial do zigoto, cada zona do embrião está
determinada e se denomina campo morfogenético.
Indução: Ao se transplantar para um embrião de anfíbio certos
tecidos de outro embrião, os tecidos adjacentes aos transplantados não
se desenvolvem como habitualmente, para dar lugar à estrutura que
originariam em condições normais, mas se transformam em outros,
associados aos transplantados. Dá-se a esse fenômeno o nome de indução.
Quando, por exemplo, se transplanta de um embrião uma estrutura em forma
de círculo retirada da área do globo ocular para a área do ectoderma
ventral de outro embrião, as áreas adjacentes ao transplante, que
normalmente produzem pele, se diferenciam e formam o cristalino do olho.
Um exemplo mais espetacular é o transplante do lábio dorsal do
blastóporo, que provoca a formação de um embrião secundário completo.
Devido a isso, se conhece essa área como centro organizador. Acredita-se
que a segregação de uma substância, chamada organizadora, seja
responsável pela organização dos tecidos do embrião. Estima-se que, nas
sucessivas etapas de diferenciação dos tecidos, produzem-se fenômenos de
indução desse tipo que, devidamente controlados, possibilitam a
reparação de defeitos e malformações congênitas de origem embrionária.
Embriologia humana
Apesar dos progressos na fecundação humana em proveta, certas
particularidades do desenvolvimento embrionário ainda não estão bem
esclarecidas. Conhecer a idade exata de um embrião ou feto é
praticamente impossível, pois raramente se consegue determinar o momento
exato em que se deu a fecundação. Sabe-se, porém, que ocorre nas 24
horas depois da ovulação e, em média, nas mulheres que apresentam ciclos
menstruais bem definidos, dá-se freqüentemente no 14º dia após iniciado
o último período menstrual.
Quando se levam em conta diferentes casos isolados ou ainda diferentes
gestações de uma mesma mulher, verifica-se que o período de
desenvolvimento intra-uterino é bastante variável. Por ocasião do parto,
em cinqüenta por cento dos casos o feto tem 266 dias (com uma margem de
sete dias para mais ou para menos) -- ou seja, 280 dias, o que
corresponde ao tempo convencional de uma gestação, menos os 14 dias
correspondentes à primeira metade do ciclo menstrual.
O período pré-natal pode ser dividido em três etapas, mais ou menos
distintas: (1) implantação do blastocisto, o que corresponde às três
primeiras semanas do desenvolvimento, quando ficam diferenciados os
epitélios germinativos e esboçadas as membranas extra-embrionárias; (2)
fase embrionária (da quarta à oitava semana), quando os processos de
diferenciação e crescimento são muito rápidos e se constituem os
principais sistemas de órgãos; (3) fase fetal (do terceiro ao nono mês
de gestação), quando há uma complementação parcial do crescimento e
alterações na forma externa.
Implantação do blastocisto: Numa ejaculação normal, são lançados
cerca de três centímetros cúbicos de sêmen, que contêm de 200 a 300
milhões de espermatozóides. Depois de liberados dos túbulos seminíferos,
os espermatozóides tornam-se ativos e, depositados na vagina,
espalham-se por todo o útero e trompas, chegando ao infundíbulo. Se
tiver ocorrido ovulação, o óvulo cai no infundíbulo, onde é fecundado.
Graças aos movimentos conjugados dos cílios existentes na camada
epitelial e às contrações rítmicas da trompa, o ovo é deslocado para o
útero.
Não se sabe exatamente quanto tempo o óvulo gasta para atravessar a
trompa (oviduto). Presume-se que esse tempo seja de três a quatro dias.
No sexto dia depois da fecundação, o blastocisto "fixa-se" no endométrio
do útero, iniciando a fase de implantação. Nessa fase, o embrião vive à
custa do material difusível através do endométrio, uma vez que suas
reservas nutritivas (vitelo) são mínimas. A implantação ocorre
normalmente na parede posterior do corpo do útero, no espaço entre a
abertura de glândulas do endométrio. Não é raro, porém, o blastocisto
implantar-se em locais anormais, fora do corpo do útero. Em geral isso
leva à morte do embrião, e a mãe sofre severa hemorragia durante o
primeiro ou segundo mês de gestação.
Fase embrionária: Durante o segundo mês de gestação, ou seja, da
terceira à oitava semana do desenvolvimento, o embrião atinge cerca de
25mm. As partes da cabeça e do tronco podem facilmente ser reconhecidas.
Dobrado sobre si mesmo, o embrião mantém a parte superior da cabeça
voltada para baixo, em direção à cauda. Aparecem os rudimentos dos
membros (quarta a quinta semana).
Os órgãos genitais podem ser considerados como indiferenciados, pois não
têm forma definida, de modo que, pelo simples exame deles, não se
consegue indicar o sexo do embrião. Na região da face, o desenvolvimento
caracteriza-se pela formação do nariz (a partir dos placóides nasais,
que se situam na parte frontal, pouco acima da "boca") e pela
diferenciação do olho, a partir dos placóides ópticos.
Fase fetal: A partir do terceiro mês, o embrião, que agora se
chama feto, inicia alguns movimentos respiratórios, apesar de estar
imerso no líquido amniótico. Seus movimentos ainda não são percebidos
pela mãe. Os olhos deslocam-se para a posição definitiva e inicia-se a
diferenciação na genitália externa. No quarto mês, o feto tem o peso
aumentado em aproximadamente seis vezes (passa de vinte para 120
gramas).
Durante o quinto e o sexto mês de gestação, inicia-se o crescimento dos
cabelo, cílios e supercílios, bem como um desenvolvimento acentuado das
unhas. Os movimentos realizados pelo feto são perfeitamente percebidos
pela mãe. Caso seja retirado do ventre materno, consegue manter a
respiração por mais 24 horas e pode até sobreviver em um incubador,
desde que tomados alguns cuidados especiais.
Inicia-se no oitavo mês da gestação a deposição de gordura subcutânea,
de maneira que o feto perde a aparência enrugada do estágio anterior.
Por ser a cabeça bastante pesada em relação ao corpo, o feto ocupa, no
útero, uma posição normalmente invertida. Sua pele está recoberta de uma
substância esbranquiçada e gordurosa, a vernix caseosa, composta de uma
secreção produzida pelas glândulas sebáceas.
O feto ganha muito peso durante os dois últimos meses da gestação.
Devido, porém, à perda de eficiência da placenta, pára de crescer por
volta do 260o dia de gestação. Depois do nascimento, o recém-nascido é
capaz de manter sua temperatura corporal, graças à aceleração de seu
metabolismo.
Placenta: Originalmente formada pela associação das membranas
extra-embrionárias (cório e alantóide) e do endométrio do útero, a
placenta é um órgão temporário, mas o principal responsável pelo
intercâmbio de alimento e oxigênio necessários ao desenvolvimento do
feto. Deve desempenhar, para o feto, as funções que, no adulto, são
normalmente desempenhadas pelos pulmões, fígado, intestino, rins e
glândulas endócrinas. Atua ainda como barreira para muitos
microrganismos patogênicos e várias substâncias tóxicas, prevenindo sua
transfusão da mãe para o feto. Com a forma e o tamanho de um prato
fundo, liga-se ao feto pelo cordão umbilical.
Também podem passar pela placenta aminoácidos, uréia, ácido úrico,
creatina e creatinina. A transmissão dos carboidratos é mais complicada:
a placenta é capaz de retirar a glicose do sangue da mãe e convertê-la
em glicogênio, que parece ser a reserva alimentar do feto. Além disso,
passam facilmente da mãe para o feto íons de sódio, potássio, magnésio,
fósforo e cálcio, água, vitaminas, hormônios, antígenos, anticorpos,
alguns medicamentos e quase todos os vírus.
A mãe pode então imunizar, passivamente, o filho, pela transfusão de
anticorpos produzidos pela imunização ativa de qualquer infecção que ela
tenha tido. Assim, se ela estiver defendida de certas doenças como a
difteria, a escarlatina ou a varíola, o feto estará imunizado contra
essas doenças infecciosas.
Gêmeos e partos múltiplos: Na espécie humana, a estrutura e
função do útero da mulher estão adaptadas ao desenvolvimento de um só
indivíduo, o que corresponde ao tipo mais comum de reprodução. Os gêmeos
representam um desvio dessa condição normal, pois de um mesmo útero
nascem dois ou mais indivíduos. Tudo indica que a disposição gemelar
decorre de um caráter hereditário que envolve tanto a mãe como o pai,
mas principalmente a mãe.
Alguns gêmeos são tão parecidos que dificilmente se consegue
distingui-los (iguais, univitelinos), enquanto outros são pouco
parecidos e podem ser inclusive de sexos opostos (desiguais, fraternos,
dizigóticos). Os primeiros derivam de um único ovo e ocorrem numa
freqüência de cerca de três para mil partos simples.
Gestação e parto; Obstetrícia
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